sexta-feira, 5 de junho de 2009

As Ruas da Minha Vida

Na minha cidade é assim: Uma rua vira outra.
Na minha vida é assim: um amor vira outro
A viçosa vira alagoas
Uma morava na alagoas
A outra morava em Viçosa
Agora uma mora em Viçosa
E a outra mora na minha cidade
Em qual rua? Eu não sei.
Na verdade isso só prova que minha vida é assim. Uma linha reta, de ruas e amores!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O velho barco

Adimiti-lo velho seria chamar-me assim também. Entretanto o era. E já eu àquele tempo, o de sua aquisição, vivia irrespondível às datas. Nenhum calendário, nenhum lembrete.

O tom trágico, não caia em ilusão, revela, sim, autopiedade. Mas, o que esperar num barco velho que não sei se me contempla não sei se o contemplo e de entreolharmo-nos caridosamente nos unimos? E nenhuma paixão. Nenhum amigo veio a estibordo contemplar o mar longe. Embora nunca havia eu planejado dele fazer meu refúgio, aconteceu-me assim. Guardo aqui, então, os últimos dos meus dias, que são exatamente cada um.

A graça vem de estar-me vivo e lamentando. Pois que esotu vivo e, sim, lamentando. Não haveria de ser diferente, corpo cansado este meu só faz-se dor, e minha mente não interessa mais em maus ou bons pensamentos. Reserva-se unicamente à vontade de contemplação. Contemplo, então, meus dias outros, meus dias primeiros quando o cais atraiu-me e rastejante vim, cedendo a um vício.

O velho barco...se seu cinza atraiu-me, primeiramente, repudia-me hoje notar-me entregue completamente a ele. Sem data precisa para referir-lhes, só digo que não ultrapassa os dez anos a compra por mim deste sujo lar. Não resido aqui, ainda, apesar de sofrer a escrita na mesa empoeirada deste lugar. Casa tenho eu a minha, mas nada próximo a um lar. Quando se aproxima de verdade da deconhecida fatal, ironicamente, não há mais lares.

Eis-me então, neste barco que diz-me mais de mim que eu mesmo, e esta carcaça então não pode bem ser extensãod e minha própria carcaça? Não sou, também, estas velas? O vento que nelas bate também não me assopra? Pois sim...

Tomei dele posse porque o sou. Cinza. E o barco sobre o mar, tocando-o mas não o penetrando sou eu passando pela vida. E o mar abandandonando-o é a vida a cansar-se-me. Ainda quando estático, em nada este barco atenta para o mar. Apenas flutua. De flutuar-me, de sempre às margens ancorar-me, eis que não ganho escusa alguma. Eis. Eis, neste velho barco, este velho homem sem medida alguma, que foi, não como o rio de Lídia, ou de Heráclito, pois que venho sido sempre o mesmo cansado homem a vida inteira. E, de tudo o que construí - palavras, palavras, palavras - faltam-me mais n'ora esta d'agora.

Este tempo é o tempo do naufrágio. Mas quando eu naufragar, ainda impenetrável este barco ficará aqui, e então sou menor que o barco, sou menos. E sou menos ainda porque o mar que me espera não é o mesmo mar por sobre onde me guiei todo o tempo, mas apenas seu reverso e fim.

Adimitir-me velho implica adimitir-me mortal, enfim. E isso me separa do barco, criatura fantasiosa minha e marginal, sendo eu não sua extensão, já que sobre si nada decide o barco, é sempre marginal, é sempre um porto. Enquanto eu, marginal a mim, ainda assim entro em minha história e sobre ela decido, mudo, divago, escrevo. E não.

São horas. O escuro da noite toca o mar. Do barco me despeço, meu companheiro, mas não eu.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Bartolomeu Campos de Queirós... o homem cujo livro deu título a este blog, encontra-se num estado de saúde nao muito bom...
Bartô, estou orando por você...

domingo, 23 de novembro de 2008

A madrugada indefinível

De mãos atadas, vou onde o corpo não permite. Estou agora onde estaria sua imagem. É cedo. É tarde. A madrugada indefinível. Com a cabeça entre os joelhos, meu Deus, só posso sentir. O que há onde há? Eis o que sobra depois da sensação, o homem desmontado de artifícios, nu. Estou nu, porra. E você não pensa. Meu corpo frio, frio da janela, o frio seu. Com a cabeça nas mãos, as pernas imóveis. Você se eu pedisse tocaria Chopin? Pro diabo com romantismo, Amanda, apenas venha. Estou pronto. Suportei o que havia de fogo e brasa.
A serenata nunca composta, eu a tocaria agora, Amanda, se você se levantasse desse mpiano até aqui. E nenhuma nota, nenhhum acorde, nada ressoa. Levanta desse piano. Vem. Vem porque a sensação de morte agora é tudo. A morte é tudo, entretanto não posso também amá-la. Posso amar te amando, Amanda?
Esperança: você acordar num dia dezessete, ainda se lembrará dessa data, e pensar em mim levemente; Sorrir. Pensar: ah, poeta...E eu te esperando, com a carne imunda de amor. Talvez esteja na cama de outro amor, por que não? E ela nem saberá de você, mas eu me levantarei e saberei, de mãos atadas e as pernas imóveis.
Enfim, essa massa invisível entre nós todos e que nos permite viver, você a entenderá não como ar, mas como amor. E que ela é constante. E que o amor é impossessável e coletivo. E que o coração nada tem a ver com essa merda toda.
O amor, é bom que saiba e esteja prevenida, não é o que pregam em poemas, canções, filmes. Você o conhecerá, verá a crueza e naturalidade que há e toda a sua possibilidade, normalidade, tranqüilidade e desespero. E amando então vai respirar mais profundamente, porque amar requer amor sempre e cada vez mais.
Poderia escrever um tratado metafórico, mas este diálogo mudo não requer e não permite. Apenas escrevo. Enfim.
De onde o corpo não vai,
B.M.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Despalavra

Ela na minha boca. Um puslo: impulso. Ela animal, explosiva, se explodindo mesmo ali. Eu medo. Ela loucura. Eu gosto, ela papilas. A mulher se abrindo, suas carnes à carne. A carne subersiva. A mulher e seus sortilégios. Nenhuma voz – toda voz.

Eu agora longe. Ela rainha observadora, olhares despóticos. Minhas papilas ainda ela. Ela vitoriosa, assistindo a um servo. Eu vitorioso, assistindo imperialmente o voo. E o tempo inexistindo. Este é o instante após. O instante da despalavra.

Antes, na palavra, ela era elas. Ela gritava, na palavra encontrava repouso na palavra encontrava tormento na palavra representação. Na língua a satisfação. Na língua a despalavra vindo. Eu então era um invocabulador esta tarde.

Antes, na palavra: memória. A despalavra está na imemória, está no sensacional. O que se sente não se lembra. Sentir é in-ato. Os atos se lembram, as palavras...as despalavras dexistem, por fim.

Na carne o fim do diálogo. A corrupção de qualquer dialética. A síntese levando à antítese, à tese. Ela, eu. A dependência da palavra para o ser.

Amor. Amor, desposses. Impossível. Impossíveis. O ter nunca tendo, o paradoxo camoniano e mais. A perda. O reconhecimento do amor é o início da perda. Ela sabe isso. Ela me abraça sempre, me tem enquanto me perde. Me tem e eu não me tendo. Eu e essa sozinhez, essa minha.

A sozinhez, esse instar todo nosso, a questão das questões, a dúvida, vida. A vida termina a dúvida. A dúvida na vida inteira. A sozinhez escravizando a gente, a gente indo servir. A sozinhez, uma solidão nossa, eterna. Desde nascer até morrer. Ela carnes não tateia sozinhezes...ela me ama, apenas. Ela carne, dizendo meu nome -a minha carne.

E então recomeça: Ela na minha boca – o seu nome. A incursão na despalavra.

domingo, 5 de outubro de 2008

Acho que preciso voltar a escrever.... Ainda que ninguém mais leia...