domingo, 23 de novembro de 2008

A madrugada indefinível

De mãos atadas, vou onde o corpo não permite. Estou agora onde estaria sua imagem. É cedo. É tarde. A madrugada indefinível. Com a cabeça entre os joelhos, meu Deus, só posso sentir. O que há onde há? Eis o que sobra depois da sensação, o homem desmontado de artifícios, nu. Estou nu, porra. E você não pensa. Meu corpo frio, frio da janela, o frio seu. Com a cabeça nas mãos, as pernas imóveis. Você se eu pedisse tocaria Chopin? Pro diabo com romantismo, Amanda, apenas venha. Estou pronto. Suportei o que havia de fogo e brasa.
A serenata nunca composta, eu a tocaria agora, Amanda, se você se levantasse desse mpiano até aqui. E nenhuma nota, nenhhum acorde, nada ressoa. Levanta desse piano. Vem. Vem porque a sensação de morte agora é tudo. A morte é tudo, entretanto não posso também amá-la. Posso amar te amando, Amanda?
Esperança: você acordar num dia dezessete, ainda se lembrará dessa data, e pensar em mim levemente; Sorrir. Pensar: ah, poeta...E eu te esperando, com a carne imunda de amor. Talvez esteja na cama de outro amor, por que não? E ela nem saberá de você, mas eu me levantarei e saberei, de mãos atadas e as pernas imóveis.
Enfim, essa massa invisível entre nós todos e que nos permite viver, você a entenderá não como ar, mas como amor. E que ela é constante. E que o amor é impossessável e coletivo. E que o coração nada tem a ver com essa merda toda.
O amor, é bom que saiba e esteja prevenida, não é o que pregam em poemas, canções, filmes. Você o conhecerá, verá a crueza e naturalidade que há e toda a sua possibilidade, normalidade, tranqüilidade e desespero. E amando então vai respirar mais profundamente, porque amar requer amor sempre e cada vez mais.
Poderia escrever um tratado metafórico, mas este diálogo mudo não requer e não permite. Apenas escrevo. Enfim.
De onde o corpo não vai,
B.M.

Um comentário:

Natália Nunes disse...

esse texto me lembrou de "don't explain", interpretada por nina simone, e mais recentemente pelo damien rice e cat power.