sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Amores d’além mar


Acordou pensando ter escutado seu nome, mas era apenas o despertador que lhe chamava para mais um dia naquele lugar estranho. Londres era fria e não tinha sonhos durante a maior parte do ano. Sentia vontade de chorar, mas não fazia seu gênero. Era forte. Nem mesmo sua despedida havia sido melancólica. No fundo, sentia, realmente, vontade de chorar.

Aquele aperto no coração houvera lhe perturbado outrora, tanto que já, até mesmo, havia sido indicado a um cardiologista, mas este, teimava em atestar que era forte como touro.

Sentia falta de lugares d’além mar. Sentia falta daquele cheiro. Sentia fala dos seus sonhos. Sentia falta daqueles cabelos longos em sua cara todas as manhãs. Eram lindas aquelas manhãs. Aquela terra fria não era bem o que sonhara. Quando pequeno sonhava em morar em uma praia cheia de palmeiras verdejantes. Adorava clichês. Com o passar do tempo os sonhos foram se desgastando assim como a idade. Não agüentava mais ouvir falar em sonhos. Deixara tantos para trás que nem mais se importava se ainda tinha algum em sobejo nos confins da alma.

Não somente sonhos deixara para trás. Pessoas também. Morria de vontade de ligar e falar que sentia falta, mas era deveras orgulhoso. Saudade era uma palavra que não falava mais, no máximo dizia um singelo: miss you. Nem de longe tinha o mesmo impacto.

Ainda deitado, perdido em seus próprios pensares, não fazia questão de levantar, não fazia questão de acordar. Perdera toda a noite anterior olhando as estrelas e fazendo contas para descobrir quanto tempo levaria para nadar todo oceano de volta pra casa. Sim, era o que pensava, seria impossível. Quando chegasse, se chegasse, já estaria velho demais até mesmo para se reconhecer no espelho, mais ainda para reconhece-la. Depois de tanto tempo nem a voz adocicada, que no passado o conquistara, seria a mesma.

O telefone tocou. Nunca lhe chamavam. Podia ser ela. O que diria? O que conversariam? O telefone tocou mais uma vez. Como ela estaria? Estaria com alguém? Mais um toque. Estariam realmente felizes? ... Fez-se um silencio mórbido. O pior que já escutara. O telefone não tocava mais. Caiu-lhe uma lágrima perdida. Outro dia começava. Será melhor assim – pensou. Levantando-se, não percebeu, mas deixara mais um sonho para trás, talvez, não só um sonho, mas deles, o último.

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