domingo, 18 de novembro de 2007

Ódio alexandrino

Homem não ama. Foi exatamente essa a frase que a ouvi dizer antes de fechar o livro que com tanto carinho indiquei. Tamanha falta de tato a dela, por pouco estive por desdizê-la. Segurei-me. Homem não chora também. Mas veja você que depois de dizer aquilo, ela sorriu-me como se fosse maio e apenas o som do violino celebrasse alguma paixão. Veja você!, apesar de toda a crueldade daquela frase, eu a amava. A amava não porque eram castos seus cabelos ou o som de sua voz. Amava-a porque queria cuspir nela o desaforo de amá-la. Repudiei-me por duas noites depois de perceber essa sujismundície de sentimento.
Quando acordei dia sete de setembro, a praça se incendiava em fogos e flashes e gritos. Dei apenas um suspiro. Nada tinha eu de especial ou de diferente daquelas pessoas que comemoravam, ironicamente, independência. Nada tinha eu também que escrever a ela uma carta mal-educada, dizendo que homem sim amava e que eu era a maior prova. Até soneto consegui fazer espontaneamente para ela. Fiz um alexandrino. O lixo gostou bastante daquelas palavras. Eu novamente me via nu e fraco.
Agora já se contavam duas semanas que não a via. E ardia em mim a fome de matá-la. Queria tocar a mão dela desesperadamente e receber de volta o sorriso cru, como se fosse dezembro e o Natal nada fosse. Queria-a ácida. Nada que um bom terno não resolvesse. Fui até a livraria, por conta própria comprei o que o poeta disse, "ferida que dói e não se sente" e com um contentamento todo descontente entreguei a ela, em mãos, cabelos, abraços e beijo. E sim, disse a ela que a amava e que todo aquele tempo nada me foi útil, exceto para abandonar minha vida. Mentira minha, porque havia cinco dias tinha feito a barba, havia quatro tomei café e ainda ontem comprei-me o terno que à hora usava. Ela sorriu. Era má comigo! Convidou-me para entrar - mas já esava bem dentro, com meu corpo sobre o seu.
Passou-se assim até dezenove de outubro, quando me lembrei de perguntar a ela se homem amava. E ela me sorriu, ah, sempre o sorriso! Na verdade, nunca odiei tanto uma mulher como odiei Clarisse.

2 comentários:

Vita Brevis disse...

Seu texto me esperançou... temos a impressão da falta de amor nos homens, por não saberem expressar seus sentimentos... é uma pena generalizarmos tanto!

Adorei seu blog!

Beijos!
Rafa

Johnn. disse...

Gostei!!

Gostei!!


principalmente da última frase, hahaha, mostra bem o sentimento...