terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Borba de Magalhães

Era inverno em Viana e eu, Lamar de Alcântara, quase não conseguia sentir a periferia do meu corpo. Viana do Castelo, uma cidadezinha no extremo norte de Portugal é famosa por suas casas em pedra, e um enorme castelo no centro da cidade. Fui atraído pela calma que o lugar inspirava, principalmente no inverno. Saí da movimentada Lisboa e por vários dias ficamos somente eu e os ventos cortantes daquele inverno rigoroso (como há muito tempo eu não experimentava)

Depois de dias solitário, escrevendo e bebendo ótimos vinhos, decidi que era hora de conhecer pessoas novas. Fui a um bar local. Não estava muito cheio. Somente algumas pessoas sentadas em mesas esparsas. A madeira antiga e escura e a iluminação precária davam um ar rústico ao local – Imagino que não de propósito. A temperatura interna era bem mais agradável e caixas de som velhas e desgastadas tocavam um fado a uma altura tolerável.

Acomodei-me num espaço vago do balcão e pedi ao velho, que parecia ser também o dono do lugar, um pouco conhaque e uma porção de bolinhos fritos. Prontamente pegou uma taça empoeirada no fundo de um armário, serviu-me e avisou que “os bolinhos já estavam a sair”.

Depois de alimentado e devidamente aquecido continuei a fitar os freqüentadores que haviam restado no local, afinal de contas as horas se arrastavam, e a noite já se preparava para engolir o dia. Algumas pessoas conversavam, outras bebiam e poucos se deitavam sobre a mesa a fim de dormir e curar a bebedeira precoce. Uma pessoa em especial me chamou a atenção; tratava-se de um jogador de dardos. Sujeito alto, que não parecia ser dali. Aparentava ser um pouco mais novo que eu. Feições simples, óculos, pouco cabelo e extrema habilidade em fazer pontos em jogos de dardos.

Dirigi-me ao sujeito e perguntei se queria companhia para um jogo amistoso. Desde idos tempos em pubs ingleses (mais precisamente em Bristol) que não atirava um dardo sequer. Antes de iniciarmos o jogo alertei-o de minha condição debilitada e falta de prática no esporte – tanto neste como em qualquer outro. Sorte melhor não me aguardava; fui derrotado com uma facilidade absurda.

Ao fim da partida, percebi que o homem falava em versos. Um trovador. Ofereci uma bebida em reconhecimento à vitória. Aceitou e então conversamos. Descobri seu nome: Borba de Magalhães. Também escritor. Também de Lisboa que tinha ido a Viana para tentar terminar um livro que começara escrever havia muito tempo. Tinha muita coisa publicada, tanto em poesia quanto em prosa, mas dizia que estava terminando uma obra prima. Fiquei absorto ao descobrir que o poeta tentava terminar este livro desde seus dezesseis anos (e acreditem, isso me pareceu ser bastante tempo, a julgar pela sua aparência).

Ao final da conversa, só restavam nos dois e um amontoado de garrafas vazias na velha taverna. Dei-lhe meu endereço em Lisboa e telefone para que pudéssemos manter contato. Nunca mais o vi.

Até que, já na capital, estava eu em uma livraria a divulgar um livro de poemas infantis encomendado por uma editora, quando de repente vejo bem em minha frente o atirador de dardos. Sim, Borba leu num jornal onde eu estaria, e achou que seria interessante prestigiar. Fiquei lisonjeado quando o vi segurando meu fino livro que acabara de comprar.

Após o assédio incomum de pais e crianças, conversamos por horas sobre diversas coisas. Apresentou-me algumas modernidades com as quais ainda não tinha contato. Dentre elas, esse diário eletrônico.

Propôs-me que escrevêssemos e publicássemos em um só lugar. Já conhecendo a capacidade literária de meu co-autor, aceitei prontamente.

Então, cá estamos escrevendo e publicando nossos rabiscos. Gostaria que lessem com tanto carinho quanto é escrito. Espero que gostem. Boa leitura

7 comentários:

Carol! disse...

Suas descrições provocam em mim uma vontade imensa de conhecer Portugal!

E eu não imaginava q a história desse blog fosse tão bela.

um beijo!

B!ah♥=D disse...

Puxaaa!!!!!!Muito legal o jeito como vcs se conheceram...
E quanto aos links tuudo bem...
Beijos;
=]

Márcia disse...

Pelo começo de tudo, pela poesia reinante no encontro, pela cumplicidade de palavras, eu sei o tanto de prazer terei ao longo dos dias aqui.
Belíssima história!
Obrigada pelo carinho da indicação, peguei meu selinho que adornará minha casa virtual.
dias lindos
beijos

Anônimo disse...

Liiiiinda a história *____*

linkado :D
me linka também *.*

beijo :*
Feliz 2008 (:

A Jana e o Ti disse...

Que bacana o encontro de vcs! Eu sou louca pra conhecer Portugal... quem sabe um dia, né?
Abraços!

Anônimo disse...

HUMMM , Portugal... (:
tenho mta vontade de conhecer e morar em Portugal! ;D
e q linda a história de vcs. *-*

bjO , FELIZ 2008! õ/

Sentimentalidades-Todas disse...

ínicio de tudo!
prosáico mas inebriante como o conhaque....

Agora posos continuar a caminahda de espreitar o mundo de vocês....

abraços!!!!!

recado para vc nas minhas sentimentalidades