quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Brigas e Corações

Já passava de duas da manhã, ou era três? Ele se revirava na cama sem poder dormir. Os fogos de reveillon ainda ecoavam em sua cabeça. Mais constante que isso só a imagem dela, em sua melhor fotografia, marcada a ferro e fogo em sua cabeça. Os gritos daquela última briga ocupavam o espaço restante em sua cabeça. Discutiam por nada, ou por tudo. Qualquer coisa já era um motivo suficiente. Uma saia mais curta, ou dez minutos de atraso...

Será que daquela vez era definitivo? Pensara assim todas as outras vezes. Mas dessa vez era diferente. Aquele tom, ela nunca tinha usado. Nunca antes havia saído assim, sem dar notícias, nem voltado tão tarde.

Levanta, olha as horas, não as assimila, olha por olhar. Vai ao banheiro, lava o rosto, bebe água e se olha no espelho. Não reconhecia o próprio rosto. Sem ela, era irreconhecível até mesmo para seu eu lírico. Eu – pensou – palavra que há muito não usava. Preocupava-se mais com o Nós do que com o Eu. Seria esse o erro? Já ouvira falar, nessas telenovelas, que muitos casais se separavam falta de Nós, nunca por excesso.

Perdera totalmente a noção do tempo. A cronologia não lhe fazia mais sentido. Levava consigo mesmo, uma vida anacrônica. O anel na mão esquerda acusava cinco anos. Em sua mente, o limiar entre o amor e a circunspecção afinava-se a cada pensamento com o nome dela.

Aquela porta maldita não se abria. Aqueles cabelos dourados teimavam em não chegar. Aquela boca doce teimava em não falar que sentia muito por tudo, e que lhe amava. A vida teimava em ser real.

Lera uma vez, também não se lembra onde, que as brigas afastam os corações. Teriam brigado tão constantemente que os corações não sabiam mais o caminho de volta? Quanta bobagem. Corações não andam, corações não pensam, corações não amam. Corações apenas batem.

Naquele mesmo momento, enquanto divagava sobre seu reflexo, o tempo, a porta e os corações, a porta se abre, seu semblante muda, e seu coração palpita mais forte. Era ela, naquele mesmo vestido branco, que corre até o banheiro e abraça forte.

Sinceramente, não fazia mais a menor diferença quem brigara primeiro, ou de que lado imperava a razão. O caminho de volta ela ainda conhecia. E se não o lembrasse, poderia seguir o mesmo brado cordial que a guiara todas as outras vezes.

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Este que vos escreve vai sair por um período de férias. Nada de blog por alguns dias. Mesmo assim, não deixem de passar por aqui. Terão diversão e boa leitura garantida pelas mãos do meu grande amigo Borba! Um grande abraço a todos

4 comentários:

Deborah disse...

ah, se a vida fosse assim tão simples...

Márcia disse...

Esse "voltar" anula toda dor sentida e o medo de perder...
Doce regresso que une corações apaixonados.
Boa viagem amigo, crie asas em suas férias e voe à felicidade!!
lindos dias,
beijos

Sentimentalidades-Todas disse...

Diferentemente dos colegas acima que - como eu - sorvem seus textos, a beleza deste não me diz da retomada do caminho que sempre enlaça os amantes.
Pensei: qual o sinal que dirá a Ele que dessa vez é diferente das outras partidas Dela?
Quando se sabe que aquele é um ponto final e não um em seguida?
Quando????


Já me sinto órfã por conta das suas férias. Divirta-se. Refaça-se. Mas não se demore muito.
Abraços

Alice disse...

Uauuu !! vim te conhecer e me encantei com tuas palavras !
posso add vc aos meus favoritos ?
bjkasssss